sábado, 1 de dezembro de 2012

A FUNÇÃO DO ORIENTADOR SOCIAL NO PROJOVEM ADOLESCENTE

A FUNÇÃO DO ORIENTADOR SOCIAL NO PROJOVEM ADOLESCENTE; DO TRAÇADO METODOLÓGICO AO TRAÇADO DA VIDA

INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo investigar o papel do Orientador Social no Programa Nacional de Inclusão de Jovens - Projovem, e identificar como ocorre a busca constante pelos adolescentes na faixa etária de15 a17 anos. Pretende também, contextualizar o referido Programa elaborado na esfera do Governo Federal e desenvolvido em parceria com as prefeituras. Neste caso, com a Prefeitura do município de Várzea Grande/MT, no espaço do Centro de Referência de Assistência Social-CRAS.

O Projovem Adolescente agrega jovens beneficiários do Programa Bolsa Família, sendo este, conforme o traçado metodológico (BRASIL, 2009a, p.21) é "uma renda que beneficia famílias em situação de pobreza que tem como objetivo assegurar o direito humano à alimentação adequada, promovendo a segurança alimentar e nutricional". O Programa agrega também, adolescentes vítimas de violência, exploração sexual, trabalho e medidas de proteção ou socioeducativas.

A metodologia aplicada neste trabalho tem como referencial o estudo bibliográfico e pesquisa de campo, na abordagem qualitativa, através de questionários abertos, com a participação de dois (02) orientadores dos coletivos em Várzea Grande/MT e a vivência no coletivo, que mostrará na prática, a realidade tanto do Orientador Social como da sua função mediante a tantas dificuldades encontradas no coletivo. Destacamos que para obter um bom trabalho, é preciso comprometimento tanto dos órgãos competentes como a coordenação local do Programa. Referindo-se também, nesse contexto, ao próprio Orientador Social, pois é através deste, que resultará o trabalho de inserção dos adolescentes na sociedade com possibilidade de uma melhoria de vida tanto familiar, quanto escolar e de realizações futuras.

O Orientador Social é o profissional da educação ou de qualquer outra área que busca os jovens para formar o coletivo, tendo que compor com o mínimo 16 e máximo 30 adolescentes, fazendo um trabalho educativo e social ao mesmo tempo, tanto com o jovem quanto com sua família, pois é preciso criar este vínculo com ambas as partes, para conquistar a confiança de todos os envolvidos (BRASIL, 2009a).

Este profissional, independente de sua formação inicial deve demonstrar a capacidade de criar vínculos de confiabilidade para que os jovens sintam-se acolhidos. Elabora atividades em relação ao cotidiano, promove debates, elabora projetos sobre temas polêmicos entre jovens, trabalhando com a realidade de cada pessoa do grupo, sobre a importância da aproximação com a família, o esporte e o lazer para que o adolescente interaja com as propostas do Projovem (BRASIL, 2009a).

Nesse contexto, cabe ao Orientador a sensibilidade em propor uma metodologia participativa que ajude sensivelmente no diálogo com a família e desta com o jovem, aprendendo a escutá-lo, pois conforme esclarece Freire (1996, p.113):

O sonho que nos anima é democrático e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo, como se fossemos os portadores da verdade a ser transmitidas aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com eles.

Assim, o orientador precisa ter um comprometimento com o jovem e sua família, manter diálogos, saber escutar o que as partes envolvidas estão se expressando verbalmente. É a partir disso, que irá se formar um vínculo, para poder executar as orientações previstas nos cadernos com relação à vivência, família, escola e outras atividades que o adolescente deve presenciar no Programa. (CRAS, 2011).

O termo Coletivo é utilizado no Programa Nacional Projovem-Adolescente, não no sentido rotineiro de classe ou turma escolar. Trata dos agrupamentos dos jovens no Programa em espaços não-escolares, sendo cada Orientador responsável tanto pela busca, como cadastro, inscrição e o desenvolvimento das atividades de segunda a quinta-feira durante um período do dia (Brasil, 2009b).

função do orientador social no projovem adolescente do traçado metodológico ao traçado da vida

A prática do Estágio Supervisionado em Espaços não Escolares feito no CRAS-Cristo Rei do Município de Várzea Grande/MT, com o Programa Projovem Adolescente no ano de 2010, levou-nos a refletir o quanto o Orientador Social é importante na vida de cada jovem integrante do Programa. Durante o tempo de regência das aulas que foram trabalhadas na semana do referido Estágio, uma funcionária da coordenação do Projovem fez um convite para levarmos o curriculum vitae até a coordenação e a partir desse momento, começamos a desenvolver um trabalho de orientação com esses adolescentes. Foi em conseqüência dos desafios dessa prática que obtivemos estímulo pesquisar sobre a função do Orientador Social no Projovem Adolescente .

O Traçado Metodológico (BRASIL, 2009ª, p. 16) nos evidencia que o Projovem Adolescente é um Serviço Socioeducativo de Proteção Social Básica inserido na Política de Assistência Social (PNAS), no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e vinculado ao Centro de Referência e Assistência Social-CRAS. Sua principal diretriz é complementar a proteção social à família, a partir do apoio direto aos jovens de15 a17 anos de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família, vinculados ou egressos de programas e serviços de Proteção Social Especial, ou sob medidas de proteção ou socioeducativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, exceto em cumprimento de medida de internação.

O Projovem, enquanto Programa do Governo federal foi criado em 2005, com a denominação de Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano, Saberes da Terra e outras modalidades que tiveram como proposta, incluir o adolescente na participação dos programas criados pelo governo. Mais tarde, com o objetivo de potencializar os resultados, optou-se pela reformulação do programa de inclusão de jovens de15 a29 anos, dando origem a 04 modalidades: Projovem Adolescente- Serviço Sócio Educativo; Projovem Urbano; Projovem Trabalhador; e do Campo. O funcionamento dessas modalidades foi sancionada pelo Presidente Luis Inácio Lula da Silva em setembro de 2007 e regulamentado pela Lei n. 11.629 de 10 de junho de 2008 (BRASIL, 2009a).

Os jovens se reúnem de segunda a quinta-feira no período matutino das 7horas às 11horas e no período vespertino das 13horas ás 17horas. E, para cada período há um Orientador Social que é a pessoa que vai instruí-los no decorrer do ano, mantendo um convívio direto com os adolescentes no coletivo. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (BRASIL, 2011, p.1) ressalta que "Coletivos são jovens que são organizados em grupos, que desenvolvem uma série de atividades, em um percurso envolvendo os eixos estruturantes, o ciclo completo de cada coletivo tem duração de dois anos.

Segundo o Traçado Medológico (BRASIL, 2009a, p.37) "O Orientador Social é a "alma" do Projovem Adolescente. Desempenha a "função chave" de facilitar a trajetória de cada jovem e do coletivo juvenil na direção do desenvolvimento pessoal e social, contribuindo para a criação de um ambiente educativo, participativo e democrático". Sendo função do Orientador, projetar e executar as ações socioeducativas dentro e fora do coletivo.

O Traçado Metodológico é parte integrante do conjunto das publicações elaboradas pelo MDS com o intuito de proporcionar, às equipes profissionais e aos gestores responsáveis pelo Projovem Adolescente em todo o País, as bases conceituais e os subsídios teóricos e práticos necessários à estruturação e desenvolvimento de um serviço socioeducativo de qualidade (...) (BRASIL, 2009b, p 13).

Este Traçado Metodológico está ordenado em três eixos estruturantes: Convivência Social - é a parte que desenvolve o convívio com a família, amigos a comunidade em geral, instigando sentimentos de carinho, amor ao próximo, respeito, solidariedade e aprender a conviver e respeitar as diferenças. A Participação Cidadã - sensibiliza os jovens na questão da participação e no envolvimento com a sociedade, tanto na parte cultural, social, ambiental, econômica e política, para que sejam desenvolvidas experiências juntamente com o Orientador Social para beneficio a comunidade local e em outras regiões. O último eixo é o Mundo do Trabalho - vai possibilitar ao adolescente, refletir sobre a sua futura profissão, instigando a buscar mais conhecimento e de obter uma boa perspectiva de vida (BRASIL, 2009a).

Percebemos a complexa e dinâmica atuação do Orientador Social diante desses eixos e inserido num Programa que envolve a sensibilidade, a atenção e o respeito à vivência de jovens muitas vezes exclusos do convívio social e às margens da sociedade.

Está essa função devidamente programada e respaldada nos Traçados Metodológicos? A pergunta problematizadora de nosso estudo está inserida nessa linha de investigação. Então, qual é a função do Orientador Social no Programa Projovem Adololescente, a real função, ou seja, aquela que diariamente é exercida pelo profissional responsável pelo Coletivo dentro do Programa .

Optamos pela participação do grupo respondendo algumas perguntas através de questionário aberto e, para evitar comprometimentos, nenhum de nossos entrevistados será nomeado pelo seu nome próprio, apenas de Orientador A e Orientador B, quando citados nas respostas da pesquisa realizada nos coletivos do município de Várzea Grande- MT.

As questões da entrevista foram enumeradas de 01 a 12, e estarão em ordem sequencial  conforme perguntas e respostas dos orientadores entrevistados:

Em relação à pergunta número 01, sobre como conheceu o Programa Projovem Adolescente? As respostas foram às seguintes:"Conheci o Projovem através da minha ex cunhada". (Orientadora A). "Fui convidada a participar de reunião, no qual a coordenação do Projovem estava presente e eles eram um dos preletores". (Orientadora B)

Conforme o relato dos Orientadores entrevistados, estes conheceram o Projovem Adolescente através de um vizinho, familiar ou até mesmo por envolvimento em questões políticas. Este fato pode ser um dos motivos de Ingressam no programa e na maioria das vezes, sem a devida qualificação para atuar no cargo proposto. Outras vezes, são de áreas totalmente distintas das áreas educacionais e sociais, e por não ter outra opção, terminam aceitando a proposta de trabalho, porém desistem, por causa da não identificação, dos salários baixos e ou infra estrutura precária.

Em relação à pergunta 02 sobre qual é a sua opinião a respeito do Programa? As respostas foram às seguintes:"O Programa em si na teoria é uma coisa, agora na prática é outra". (Orientadora A). "Teoricamente um Programa inteligente e promissor, mas na prática, na realidade onde os jovens estão inseridos, não corresponde a teoria a ser aplicada no coletivo".(Orientadora B).

Como dito pelas Orientadoras tudo o que está nos cadernos do Orientador Social, proposto pelo governo aos jovens e dá a impressão de perfeita harmonia, mas os seus objetivos não se efetivam na prática, devido a falta de apoio, investimentos, englobando tudo o que se refere ao Programa. Coletivo e Orientadores acabam sozinhos tendo que resolver os seus problemas diários.

Em relação à pergunta 03 se o Orientador recebe apoio pedagógico da coordenação municipal do Projovem Adolescente? As respostas foram às seguintes:

"Capacitação é uma vez por semana e o caderno metodológico que não é o suficiente". (Orientadora A "Com reuniões semanais, orientações, quanto aos cadernos do Projovem. Contudo esse apoio deveria ser mais intensificado ao Orientador e ao coletivo". (Orientadora B)

Sempre fica faltando algo na capacitação, um maior aprofundamento nas discussões. É repassado o que está nos cadernos do Orientador Social e nada de novo, para que possa aplicar no dia a dia, como oficinas, novas técnicas que nos auxiliem a entender os problemas sociais e na conquista e permanência deste jovem no coletivo. Esse apoio deveria ser mais intensificado ao Orientador e ao coletivo, pois na maioria das vezes as promessas que são feitas não são cumpridas.

Em relação à pergunta 04 se recebe ajuda com materiais escolares para realização das atividades? As Orientadoras A e B emitiram praticamente, a mesma resposta: "recebemos ajuda com materiais, mas não é o suficiente, às vezes temos que comprar com dinheiro do nosso próprio salário".

Como dito a falta de materiais é uma preocupação, pois os materiais que são recebidos não são suficientes para realização de um bom trabalho, tendo que driblar essa situação. Com a aplicação das estratégias pede-se doações ou tira-se do próprio salário. Fica o questionamento: como trabalhar com todas essas dificuldades dentro do coletivo?

Em relação a pergunta 05 arespeito do lanche para os jovens, se recebe todos os dias e, se a resposta for negativa, qual a atitude em relação a isso. As respostas foram às seguintes:"Nós fazemos cota e compramos ingredientes para fazer o lanche".(Orientadora A). "Hoje o lanche é diário, mas nos meses anteriores não havia lanche e os orientadores eram responsáveis por ele".(Orientadora B)

Segundo o Traçado Metodológico (BRASIL, 2009a, p.36), o responsável pelo Programa deverá fornecer lanche sempre que necessário. Mas a realidade é totalmente oposta, os lanches não são fornecidos todos os dias, levando o Orientador social e até mesmo os jovens, a se reunirem para fazerem cotas para a aquisição do mesmo. Muitos dos jovens não tem uma boa alimentação em casa e quiçá nenhum alimento na dispensa. .

Em relação à pergunta 06, se o Orientador obtêm apoio da família em relação ao jovem, as respostas foram as seguintes:"As famílias dos jovens também me apóiam". (Orientadora A). "Algumas vezes". (Orientadora B)

É também por meio do convívio que se estabelecem e se solidificam os vínculos humanos, inicialmente no âmbito familiar, constituindo uma rede primária de relacionamentos que asseguram afeto, proteção e cuidados (...). (...) tecendo-se redes secundárias, essenciais ao desenvolvimento afetivo, cognitivo e social (BRASIL, 2009a, p. 26).

Se a família trabalhar em parceria com os Orientadores, mantendo contato, auxiliando no decorrer da semana, enviando esses jovens para o coletivo, o resultado será melhor, pois ela é essencial nessa trajetória de vida e levar esses adolescentes a obter uma nova perspectiva, tanto no ambiente familiar, escolar, trabalho e na comunidadeem geral. Sabemosque muitos precisam obter um vinculo de carinho, união e saber o quanto é importante para os seus familiares e que as vezes demonstram agressividade para chamar atenção de algo que eles não possuem, o ser humano não foi feito para viver sozinho. Algumas famílias apóiam e acompanham os adolescentes para ir ao coletivo, mas em contrapartida muitos os deixam, somente para se livrar de um problema (CRAS, 2011).

Em relação à pergunta 07, sobre qual é o papel do Orientador Social dentro do Programa Projovem Adolescente? As respostas foram às seguintes:"Devemos ir às casas dos adolescentes cadastrá-los, acompanhá-los e orientá-los fazer visitas para as famílias". (Orientadora A). "O Orientador Social tem navegado em muitas profissões como: orientador, psicólogo, assistente social, portanto difícil definir o papel do Orientador. A sua função e a orientação é o mediador de conhecimento, é o que estimula o debate a troca de experiência muita das vezes confidente. É o transmissor e o receptor de informações que possibilita a construção do saber do jovem, ampliando sua visão de mundo e incentivador do crescimento pessoal e levá-lo a ser protagonista". (Orientadora B)

Conforme as respostas dos Orientadores sobre a sua função dentro do programa, observamos que é de ir à busca desses adolescentes em suas residências, cadastrá-los, manter um acompanhamento e contato semanal com a família em suas moradias, em outro período em que o Orientador não esteja no coletivo, totalizando 40 horas semanais. A sua função é a orientação e de mediador de conhecimento, é quem estimula o debate a troca de experiência e muitas vezes tornam-se confidente ou como se fosse um parente próximo para esse adolescente.

O orientador se torna o transmissor e o receptor de informações que possibilita a construção do saber do jovem, ampliando a sua visão de mundo e incentivador do crescimento pessoal e levá-lo ao protagonismo.

As principais expectativas ao papel do Orientador Social dizem respeito ao modo de atuar com os jovens, o que requer, em suas ações cotidianas, que se faça presente e compromissado nas relações com os jovens, que estabeleça e desenvolva vínculos e que esteja permanentemente disposto a refletir sobre o seu trabalho e a melhorar constantemente o seu desempenho. (...) é uma referência fundamental para os jovens, propondo-se como um modelo de identificação o que aumenta a sua responsabilidade quanto à postura adotada frente aos jovens e frente à vida, que deve ser consistente com os princípios orientadores e dimensões metodológicas do Projovem Adolescente. Traçado Metodológico, BRASIL,2009 a)

O Orientador Social precisa ter uma postura ética e ter compromisso frente a esses adolescentes que devido a várias circunstancias da vida na particularidade de cada jovem já sofreram toda ordem de indiferença e exclusão. Na maneira de ser de cada um, procuram ajuda, carinho, respeito e necessitam saber que são importantes e é através disso, que o Orientador precisa criar vinculo de amizade, companheirismo para ajudar esses jovens no caminho de sucesso na sua trajetória de vida.

Conforme a pergunta 08, se o Orientador já sofreu alguma ameaça ou risco de morte dentro ou fora do coletivo? Sim ou não. As respostas foram às seguintes: "não". (Orientador A). "sim". (Orientador B)

Dentro do coletivo o Orientador sofre ameaças, às vezes, pelo simples fato de não ter o mesmo padrão de vida e representar as diferenças no coletivo, ou por uma palavra que foi dita que alguém não tenha gostado. Assim, o Orientador fica vulnerável, não tem proteção ou segurança no percurso até a sua residência, a desordem psicológica do individuo envolvido em violências provoca agressividade e e revolta.

Conforme a pergunta 09, se o salário é compatível com tudo o que faz dentro do coletivo? As respostas foram as seguintes:"Não, pois fazemos o papel de pai, mãe, psicólogo, amigo". (Orientadora A). "O Orientador é desvalorizado, o que ele faz e desenvolve no coletivo e de grande responsabilidade social. E até risco de "morte ele enfrenta no seu dia a dia". (Orientadora B)

Conforme a pergunta 10, dê três exemplos de experiências que adquiriu dentro do Programa. As respostas foram: "Me tornei mais sensível a realidade dos adolescentes, adquiri experiência de vida". (Orientadora A). "Aprendi a não julgar pela aparência, tinha medo dos adolescentes, mudou minha visão, conhecendo a realidade do jovem. Converso com alguns pais que as vezes choram, em pedir ajuda e contar problemas sobre o adolescente, aprendi a ouvir mais, a ser mediador, trocas de experiências".(Orientadora B)

Mesmo tendo os casos de agressividade, precisam de uma amizade sincera, compreensão que não tem em casa, e casos de alguns pais que às vezes choram pedindo ajuda para o filho e contam seus problemas, mães sozinhas que precisam trabalhar tendo filhos envolvidos com as drogas, os assaltos e outras problemas e não sabem a quem recorrer, tornando-se o Orientador um ouvinte também da família.

Conforme a pergunta 11, indique três pontos positivos e três pontos negativos do Programa. As respostas foram às seguintes: "Positivos - O crescimento intelectual dos jovens, a mudança de vida e o desenvolvimento e Negativos- O lanche, a infra estrutura, a falta de incentivo" (Orientadora A). "Positivos- Pode salvar vidas, mudar visão e levar a consciência de um mundo melhor. Negativos- Falta de investimento ou verba que não chega, condições precárias para desenvolver o trabalho dentro do coletivo, falta de apoio aos Orientadores e somente ajudam aquele que tem bastante jovem". (Orientadora B)

Na pergunta 12, se o Orientador indicaria alguém a trabalhar neste Programa? "Sim, pois nós fazemos um papel muito grande na vida deles, pois aqui eles aprendem a respeitar os outros a valorizar o ser humano". (Orientadora A) "Indicaria sim, porquê apesar dos problemas eu estaria ajudando vidas". (Orientadora B).

O Orientador pode salvar ou resgatar vidas, mudar a visão e levar a consciência e perspectiva de um mundo melhor, o crescimento intelectual dos jovens, a mudança de vida de alguns adolescentes que estão no Projovem com uma perspectiva de vida melhor

A falta de investimento ou verbas que não chegam, as condições precárias para desenvolver um bom trabalho, a falta de apoio, o lugar, o ambiente apropriado que venha trazer benefícios aos jovens, são questões sempre pendentes. Segundo a coordenação do Programa é de responsabilidade do Orientador Social, arrumar o lugar para abrir o coletivo. O Orientador precisa se desdobrar para fechar a cota certa que é de15 a25 adolescentes, podendo chegar ate 30 jovens e se não conseguir, o coletivo não será aberto e se aberto, terá que ter o mínimo de pessoas, referente a cima, para inicio do trabalho.

No traçado metodológico que é o caderno do Orientador Social, afirma-se sobre as instalações físicas e recursos matérias (BRASIL, 2009a, p 35):

As instalações físicas e demais recursos materiais disponibilizados ao Projovem Adolescente devem contribuir para a criação de uma ambiência adequada e favorável ao desenvolvimento das ações socioeducativas. Ambientes amplos, limpos, arejados, bem iluminados e bem conservados, com espaços, mobiliário e materiais suficientes e adequados, ajudam a criar esta ambiência, contribuem para a autoestima dos jovens e também para que estes se corresponsabilizem com o cuidado das instalações e o uso responsável dos recursos. Inversamente, a inadequação de recursos materiais necessários às atividades podem prejudicar o desenvolvimento das atividades e condicionar atitudes e comportamentos desfavoráveis dos jovens.

Observamos que a realidade daquilo que acontece no coletivo não condiz com o que está descrito no caderno do Orientador Social, pois este se encontra em condições desfavoráveis. Uma salinha cheia de entulhos, muito quente, escura onde alunos passam mal, com tanto calor e correndo até mesmo o risco de serem retirados do lugar. Ás vezes, na mesma sala acontecem outros cursos, ocasionando a saída desses adolescentes para alguma outra área do Centro de Referência e Assistência Social.

Observamos também, que o fator principal que acontece no Programa é a evasão, porque muitos cursos são ofertados, mas não são cumpridos pela coordenação, o que prejudica o papel do Orientador em manter esses adolescentes no coletivo, ficando os jovens desacreditados comprometendo o trabalho do Orientador Social que é o de manter e instruir esses jovens.

O Traçado Metodológico descreve de quem é a real função de recrutar esses adolescentes para formar o coletivo, assim sendo:

(...) o Projovem é um serviço público e gratuito, sendo o preenchimento das vagas de responsabilidade exclusiva e intransferível do órgão gestor da assistência, devendo-se envolver o CRAS na mobilização e seleção dos jovens, obedecendo-se rigorosamente aos critérios estabelecidos pela legislação e instrumentos normativos do serviço socioeducativo (brasil, 2009a, p. 19).

Se o recrutamento dos jovens fosse feito conforme relata o Traçado Metodológico acima, o Orientador não teria a sobrecarga de recrutar sozinho, sem ajuda dos órgãos competentes, acarretando um trabalho exaustivo, e sempre temendo se iria ou não conseguir a quantidade certa de adolescentes, para poder iniciar o seu trabalho. Além de ter que mantê-los dentro do coletivo, para desenvolver o trabalho de orientação junto aos adolescentes, que se torna uma tarefa árdua, pois os atributos que lançam ao Orientador Social são muito exaustivos e tendo afazeres que não é de sua alçada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo procurou descrever a função e a trajetória que o Orientador Social precisa percorrer, desde a criação do coletivo até as Orientações com os jovens e podemos concluir, com base na pesquisa realizada, que esta função possui múltiplas facetas. Se no Traçado Metodológico se refere a orientar e desempenhar a função chave de facilitar a trajetória de cada adolescente em uma dimensão para o desenvolvimento pessoal e social, sendo um mediador de conhecimentos, nas respostas dos entrevistados, percebemos que vai além disto.

A amplitude da sua função que vai desde desempenhar um papel de alguém da família como mãe, tia, avô, também além de orientar, como psicólogo, assistente social, e outras áreas afins.

Baseando-se na teoria de Paulo Freire, no Caderno Metodológico e em sites do Governo que relatam do assunto proposto, podemos afirmar que para ser um bom Orientador precisamos ter como base, o conhecimento vasto da legislação sobre os direitos e deveres dos jovens; ter apoio dos órgãos competentes para que juntos possam realizar um trabalho de qualidade para deixar de ser somente na teoria e na promessa.

É importante ressaltar que este trabalho é muito complexo, e não se esgota nesta pesquisa inicial. É preciso que cada órgão responsável se organize e faça o que é realmente proposto. Não sobrecarregando somente uma das partes, exatamente aquela diretamente ligada aos jovens o Orientador Social, sendo que este é o que deveria receber todas as condições necessárias para o seu trabalho. A parceria, com certeza teria um trabalho eficiente e de sucesso, para que a sociedade possa ver que é um trabalho sério e de confiabilidade.

Reconhecer o papel do Orientador Social e valorizar o seu trabalho. Este sozinho, não conseguirá desempenhar a proposta de orientação dos adolescente no Programa, obter um salário conforme o grau de escolaridade, que venha condizer com todo o desempenho e aperfeiçoamento profissional. É inegável dizer que nunca teremos barreiras, mas se lutarmos pelos nossos direitos, com união das esferas do Governo, força e persistência, chegaremos a ver uma juventude mais próxima dos seus lares, da educação, do exercício da cidadania e da dignidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Traçado Metodológico. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome 2009a. (Projovem Adolescente: Serviço Socioeducativo)

_______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno do Orientador Social - ciclo I, Percurso Socioeducativo I: Criação do Coletivo. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009b. (Projovem Adolescente: Serviço Socioeducativo)

________Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno do Orientador Social - ciclo I, Percurso Socioeducativo II: Consolidação do Coletivo. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009b. (Projovem Adolescente: Serviço Socioeducativo)

________Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno do Orientador Social - ciclo I, Percurso Socioeducativo III: Coletivo.Pesquisador Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009b. (Projovem Adolescente: Serviço Socioeducativo)

________Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno do Orientador Social - ciclo I, Percurso Socioeducativo IV: Coletivo.Questionador Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009b. (Projovem Adolescente: Serviço Socioeducativo)

________Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno do Orientador Social - ciclo II, Percurso Socioeducativo V: Coletivo Articulador-Realizador. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009b. (Projovem Adolescente: Serviço Socioeducativo)

_______. Desenvolvimento Social. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Projovem Adolescente-Coletivos, 2011. Disponível em: http://www.mds.


CRAS. Centro de Referência de Assistência Social. Vivencia presencial.Cristo Rei, Várzea Grande, 2011.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: paz e terra, 1996.

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